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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

entremedos



havia a travessia dos silêncios,
a estridência dos gritos
-
e no meio,
os medos congelavam-me os lábios,
e dissolviam-me suores
no estertor do ríctus.


sobre vivências

o dia é a minha culpa,
a noite, o meu julgamento insone
e o que me avulta
é a falta de que me fazes sentir fome.

minha dor,
minha dor,
meus olhos que em vela estrangulada te mergulho.

meu amor,
meu amor,
nuns olhos de que - mãe amargurada - me orgulho.


Ser_vil



Vesti-te
Como se o teu corpo fosse um manto rígido
A atravessar-me o peito em pregas presas
Com punhais.

Calcei-te
Como se fora a tua pele escarmentante
A moldar-me os pés em passos curtos
E finais.

Servi-te
Como se a mesa fosse ara maldita
e a carne despojo pútrido
de nós dois.


sábado, 16 de março de 2013

pontos de conforto





faltam-me, aqui e ali, pequenos pontos de conforto:

o cúmplice aconchego das mãos
o trivial amuo das manhãs
um ombro apoiando o meu queixo
um post-it amando-me pela tarde
a sobreposição dos corpos em repouso
o toque de cristais em atracção
um olhar da cor do entendimento
um beijo esquecido no sofá
a discussão breve da notícia
a partilha do humor e da malícia
a cama, acusando outro cansaço
quem me diga que gosta do que faço,
do que escrevo,
do que digo,
do que nego,
do que sigo.

faz-me falta algo mais que o teu corpo.

terça-feira, 12 de março de 2013

Fatal desígnio





Devolve-me as promessas que te dei
Quando era inocente dos teus vícios,
As palavras de amor que te jurei
Sem saber dos teus intentos malefícios.

Devolve-me toda a fé que professei
Numa vida de feliz serenidade,
A esperança que em ti depositei
Sem temer a anunciada tempestade.

E eu volto a querer-te em brisa amena,
Barco ao largo ao sabor do perdoar
Que perpassa só ao longe o meu olhar...

E eu volvo o amor que me condena,
Dos primórdios do encanto e do fascínio
Ao averno que me é fatal desígnio!

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

apontamento lateral




se não dissesse, morria,
se não escrevesse, matava,
não há vida mais vazia
que, sem pena, ser escrava.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Egolatria

Não.
Não é de ti que falo,
quando digo

as tuas mãos de silêncios
que sabem tolher poemas


nem tão-pouco quando penso

magoas-me um beijo frio
na lâmina do teu sorriso


nem mesmo quando me firo

nas cicatrizes antigas
onde a pele entardeceu
.

Não prossigas!
-
o vício perdeu o jogo,
nem tudo o que arde é fogo,
nem tudo o que dói é teu!