Quem ama, nunca perdoa...*
Tens razão, desculpa...
eu nunca deveria ter ido àquele almoço. Tu tinhas-me proibido de ir almoçar com quem quer que fosse! Eu poderia perfeitamente ter dito aos meus colegas - que queriam pagar um almoço de despedida ao gerente cessante -, que não, que tinha um compromisso para a hora de almoço (mesmo que se soubesse, em terra e à boca pequena, que eu tinha ido comer o mesmo pastel sadiço e o galão à quase-tasca do lado)...
Desculpa, a culpa daquela tareia que me fez passar a noite à geada, grávida de 8 meses, também não foi tua, que eu sei como és ciumento e nervoso. Para que é que eu estava a tentar adoçar a minha violenta azia de grávida com um chupa-chupa (que eu tinha comprado pra os meus filhos), enquanto conferia movimentos com um colega, fora da hora de expediente?...
E aquela vez, lembras-te?, quando um colega me tocou, interpelando-me, na gola do meu casaco de pele de coelho, e tu viste??... Desculpa ter-te feito passar a vergonha de teres de me forçar a voltar ao local do "crime", em plena hora de expediente, e pedir satisfações (depois da tareia, claro)...
Desculpa-me pelas vezes em que me surpreendeste a sorrir para os outros, quando de ti tinha saído de olhos manchados... (não só de lágrimas!)
Ah, e perdoa-me pelas vezes em que me surpreendeste a corar, pelo simples comprometimento da ansiedade que os teus olhares inesperados, afiados como facas, me provocavam na pele!
Perdoa-me por tantas noites que te fiz perder, vencendo-me pelo cansaço e pela dor, até cair no teu leito...
Perdoa-me por tanto e tão pouco e pelo que não fui capaz de ser, sobretudo por já estar cansada de o ser na tua imaginação doente...
Perdoa-me por tantas vezes não ter compreendido o teu amor.
Perdoa-me, sim...
tenho que pedir-te perdão.
De contrário, como me perdoarei a mim mesma?...
*...esquece, simplesmente.