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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

PÁSSAROS DA NOITE



Rasam moribundos,
os pássaros da noite.
São negros
e trazem nas corcundas
silvos em lâminas de vento
e nos bicos sedentos,
restos de fomes antigas
de sangue,
de sono,
de paz...



Pousam em bandos
os pássaros da noite
e arrancam sonhos aos incautos,
para as suas asas de cera!



Não se atrevem ao sol, os pássaros da noite!
(de noite, todos os monstros são pássaros...)





Ar de cortar à faca

E nos beijos,
esquecia-se, à força, a dor da última ceia,
engolindo em seco o medo da apneia:
pois se a pior vida é morrer em ares que são
grades de oxigénio em putrefacção...
a pior morte é viver (a)pagando,
sem o sopro aceso da combustão.

quinta-feira, 19 de maio de 2011




PEDRA PURA

Dêem-me o espaço.
Quero esquecer a minúcia
dos reflexos
dos punhais
dos cruéis
olhos que matam
à distância de um abraço.

Dêem-me o espaço.
Quero ver só o azul
da distância
da partícula
de tenuidade
inofensiva e volátil
onde em instantes me faço

pó que foi
vida dura
-
pedra pura.

sábado, 16 de abril de 2011

 
Beija-me, silêncio...
 
Há gritos que me cercam,
Sitiantes,
Sinistros,
Fustigando ventos
Que se compadecem
Da minha pele salgada
Pela sede de chuva,
Pelo apetite do mel.
Cai-me um sol a pique
Nos lábios gretados
Por um sorriso posto
A cravos e espinhos
Na estilizada cruz
Que me sombreia os olhos
E me rasga as narinas
Em sopro asfixiante…
Ruídos ribombam,
Intrusos,
Obtusos,
Confundem-me os traços,
Aturdem-me os sonhos
De sempre perdidos,
De agora exigidos…

Beija-me, silêncio,
Que quero voltar
Ao útero
Da inocência…

sábado, 2 de abril de 2011

MÁSCARA

Eu sei...
da mentira, o gume
que me corta os lábios
da verdade oclusa.

Eu sei...
da verdade oculta
que me trai o beijo
por moedas falsas.

E vou,
relegando a vida,
relevando a dor...

morro,
em verdade,
um sorriso ao dia...





Que eu seja ceguinha...
Acredito.
Piamente.
Que eu seja ceguinha, se não acredito.
Que o que dizes tem a consistência pastosa
do que me fizeste engolir à força
e agora vomito em espasmos
de alívio.
Acredito.
(Vê lá,
tanto tempo de fermentação,
mais o muco da tua indigestão,
é capaz de te fazer mal...
a longo prazo, que agora,
acredito,
piamente,
que seremos amigos
lá pelo Natal...)