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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

ÚLTIMA PEDRA

Antes de me atirarem essa pedra,
olhem-na.
Que mal fez ela, para merecer o arremesso?...
Olhem-na.
Atentem as arestas,
as erosões,
as feridas abertas,
as perdidas ilusões!

Pesem-lhe a alma,
o calor.

Ainda resta vida,
em tanto desamor?...

Antes de me atirarem essa pedra,
reconstituam-lhe a inocência,
a ascendência,
todos as chuvas que passaram por ela
todos os séculos de que é sequela,
todos os efeitos de que é consequência!...

Viram?...

...eu não mereço uma pedra assim,
com tanta história antes de mim!

Sou pó da estrada que alguém pisou,
e se flor não fui, quem me matou?...
Nunca essa pedra, se me atingir,
antes os ventos, antes os tempos,
antes os medos que me enfezaram,
e as madrugadas que me gelaram...

Párem o gesto de me culparem,
que outros antes me condenaram!

Devolvam a pedra ao pó da estrada,
se atingir-me é a cruzada...

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